sexta-feira, 11 de março de 2011

Formação - O caminho da Páscoa do Senhor

A Quaresma, com início na Quarta-feira de Cinzas, é um tempo litúrgico muito importante para a nossa caminhada cristã. Ajuda as pessoas e as comunidades eclesiais a se prepararem dignamente para a celebração da Páscoa do Senhor.
O período quaresmal é tempo sobremaneira apropriado à conversão de vida e à renovação interior. Aliás, não há Quaresma sem conversão.Converter-se é separar-se do mal e voltar-se para o bem. É mudar radicalmente de vida e de critérios. A conversão radical insere-se no coração da vida. Exige gestos concretos de amor e de misericórdia, de partilha fraterna e de justiça. Podemos dizer que o cristão é um convertido em estado de conversão, pois a conversão dura enquanto perdurar nosso peregrinar neste mundo.
Converter-se é procurar viver todos os dias a “vida nova”, da qual Cristo nos revestiu, transformando-nos n'Ele, para fazer um só corpo com Ele e com os irmãos.
Há em nós atitudes que devem morrer. Converter-nos, a cada dia, exige morrer aos poucos, sepultar-nos com Cristo para ressuscitarmos com Ele.
O amor de Deus chama-nos à conversão, a renunciar a tudo o que d'Ele nos afasta. O que mais nos afasta de Deus é o pecado. Pecar é estar no lugar errado, longe da amizade e da graça de Deus.
A conversão quaresmal significa, portanto, crescer na prática das virtudes cristãs. Somos sempre catecúmenos em formação permanente, progredindo no conhecimento e no amor de Cristo.
Ao longo da Quaresma, somos convidados para contemplar o Mistério da Cruz, entrando em comunhão com os sofrimentos de Cristo, tornando-nos semelhantes a Ele na Sua Morte, para alcançarmos a Ressurreição dentre os mortos (cf. Fl 3, 10-11). Isso exige uma transformação profunda pela ação do Espírito Santo, orientando nossa vida segundo a vontade de Deus, libertando-nos de todo egoísmo, superando o instinto de dominação sobre os outros e abrindo-nos à caridade de Cristo (cf. Bento XVI, Mensagem da Quaresma 2011).
O período quaresmal é ainda tempo favorável para reconhecermos a nossa fragilidade, abeirando-nos do trono da graça, mediante uma purificadora confissão de nossos pecados (cf. Hb 4, 16). Na Igreja “existem a água e as lágrimas: a água do Batismo e as lágrimas da penitência” (Santo Ambrósio). Vale a pena derramar essas lágrimas com uma boa confissão sacramental.
Jesus convida à conversão. Este apelo é parte essencial do anúncio do Reino de Deus: “Convertei-vos e crede na Boa-Nova” (Mc, 1, 15).
O itinerário quaresmal é um convite à prática de exercícios espirituais, às liturgias penitenciais, às privações voluntárias como o jejum e a esmola, à partilha fraterna e às obras de caridade (cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 1438). É igualmente um tempo forte de escuta mais intensa da Palavra de Deus e de oração mais assídua.
Quanto mais fervorosa for a prática dos exercícios quaresmais, tanto maiores e mais abundantes serão os frutos que colheremos e hauriremos do mistério de nossa redenção.
Também a vivência da Campanha da Fraternidade ajuda a fazermos uma boa preparação para a Páscoa. A CNBB propõe para este ano o tema “Fraternidade e a Vida no Planeta”, e como Lema: “A criação geme em dores de parto” (Rm 8, 22).
Maria Santíssima, Mãe do Redentor, guie-nos neste itinerário quaresmal, caminho de conversão ao encontro pessoal com Cristo ressuscitado.
Com o coração voltado para Cristo, vencedor da morte e do pecado, vivamos intensamente o período santo e santificador da Quaresma.
Dom Nelson Westrupp, SCJ
Bispo Diocesano de Santo André (SP)

quarta-feira, 9 de março de 2011

Papa envia mensagem sobre a Quaresma para Igreja no Brasil


O Papa explica o vínculo particular que liga o sacramento do Batismo à Quaresma, como "momento favorável para experimentar a Graça que salva". 

No Batismo realiza-se o grande mistério "pelo qual o homem morre para o pecado, é tornado participante da vida nova em Cristo". Este dom deve ser reavivado sempre em cada um de nós, explica o Papa, e a Quaresma nos oferece um caminho ao catecumenato, "uma escola insubstituível de fé e de vida cristã".  

Bento XVI destaca que a Igreja, na liturgia de cada domingo da Quaresma, "guia-nos a um encontro particularmente intenso com o Senhor", no intuito de nos preparmos seriamente para celebrar a Ressurreição do Senhor - na Páscoa - a festa mais importante de todo Ano Litúrgico. 

Este tempo penitencial nos estimula, todos os dias, a libertar nosso coraçao do apego material, que "nos empobrece e nos impede de estar disponíveis e abertos a Deus e ao próximo", explica o Papa na mensagem. 

O Santo Padre destaca ainda que "através das práticas tradicionais do jejum, da esmola e da oração, expressões do empenho de conversão, a Quaresma educa para viver de modo cada vez mais radical o amor de Cristo". 

Por fim, Bento XVI explica que em todo o período quaresmal, a Igreja nos oferece "com particular abundância, a Palavra de Deus", para que sua meditação na vida cotidiana, nos ensine uma "forma preciosa e insubstituível de oração", pois a "escuta atenta de Deus, que continua a falar ao nosso coração, alimenta o caminho de fé que iniciamos no dia do Batismo".

O Papa conclui a mensagem convidando os cristãos a renovar nesta Quaresma, o acolhimento da Graça que Deus nos deu no Batismo, "para que ilumine e guie todas as nossas ações". "Tudo o que o Sacramento significa e realiza, somos chamados a vivê-lo todos os dias num seguimento de Cristo cada vez mais generoso e autêntico", complementa. 

quarta-feira, 2 de março de 2011

Papa explica regra da obediência: "tudo por amor, nada por força"


O Papa Bento XVI falou sobre o francês São Francisco de Sales, Bispo e Doutor da Igreja - que viveu entre os séculos XV e XVI, época de discussões teológicas sobre predestinação e fortalecimento do calvinismo -, na Catequese desta quarta-feira, 2.

O Pontífice apontou um dos ensinamentos do santo como estrada para a verdadeira obediência:

"
Adverte-se bem, lendo o livro sobre o amor de Deus e ainda mais as outras tantas cartas de direção e de amizade espiritual, aquele conhecedor do coração humano que foi São Francisco de Sales. A Santa Giovanna di Chantal escreve: '[…]Eis a regra da nossa obediência que vos escrevo em letras maiúsculas: FAZER TUDO POR AMOR, NADA POR FORÇA - AMAR MAIS A OBEDIÊNCIA QUE TEMER A DESOBEDIÊNCIA.Deixo-vos o espírito de liberdade, não enquanto aquele que exclui a obediência, porque essa é a liberdade do mundo; mas aquele que exclui a violência, a ânsia e o escrúpulo'", recordou.

O Santo Padre também lembrou que a época atual busca a liberdade, também com violência e inquietudes. Exatamente por isso, não deve escapar a atualidade do grande mestre de espiritualidade e paz que foi São Francisco, "que entrega a seus discípulos o 'espírito de liberdade', aquela verdadeira, no cume de um ensinamento fascinante e completo sobre a realidade do amor. [...] Recorda que o homem traz inscrita no profundo de si a nostalgia de Deus e que somente n'Ele encontra a verdadeira alegria e a sua realização mais plena", afirmou o Papa.

Francisco
 de Sales viveu um drama espiritual e teve grandes dúvidas sobre a própria salvação eterna e a predestinação de Deus a seu respeito. No ápice de sua provação, dirigiu-se à igreja dos Dominicanos, em Paris, abriu o coração e rezou: "Aconteça o que acontecer, Senhor, tu que tens tudo na tua mão, e cujas vias são justiça e verdade; seja o que for que tu tenhas estabelecido para mim...; tu que és sempre justo juiz e Pai misericordioso, eu te amarei, Senhor [...], te amarei aqui, ó meu Deus, e esperarei sempre na tua misericórdia, e sempre repetirei o teu louvor... Ó, Senhor Jesus, tu serás sempre a minha esperança e a minha salvação na terra dos vivos".

"Aos vinte anos, Francisco encontrou a paz na realidade radical e libertadora do amor de Deus: amá-lo sem nunca pedir nada em troca e confiar no amor divino; não questionar mais o que fará Deus comigo: eu o amo simplesmente, independentemente de o quanto me dá ou não me dá", salientou o Pontífice.